Proteção Respiratória e o Coronavírus
A respiração é uma função básica do corpo humano que garante a vida. Qualquer disfunção nesta área já é suficiente para trazer imenso incômodo e atrapalhar nossas atividades mais básicas. Casos extremos levam à falência do sistema e à morte.
O sistema respiratório é complexo e repleto de particularidades que o tornam sensível a poeiras, compostos químicos, fungos, vírus e bactérias. As membranas que compõem as vias respiratórios são revestidas por um muco que possui uma função protetora, mas que em algumas situações pode ser um veículo de transporte de contaminantes. Por isso, em tempo de pandemia por COVID-19, é importante compreender como proteger o sistema respiratório desta ameaça.
Certamente não falaremos das medidas médicas, já que para essa tarefa existem os profissionais da área da saúde.
Dentro de nossa área de trabalho, discutiremos algumas questões relevantes sobre a seleção de equipamentos de proteção individual (EPI) para profissionais da área da saúde, trabalhadores e público em geral.
Como funciona a proteção respiratória?
Existem muitos equipamentos de proteção respiratória disponíveis no mercado, e, na falta de instrução adequada, é comum que as pessoas escolham produtos impróprios. Escolhas inadequadas significam desperdício de recursos, e pior: exposição a riscos , mesmo imaginando-se protegidos.
Primeiro, vamos esclarecer quais são as principais barreiras da entrada de agentes de risco ao sistema respiratório:
– Vedação;
– Porcentagem de penetração do agente no material filtrante.
A vedação garante que o ar inspirado passe, necessariamente, pelo material filtrante, e não pelas bordas do respirador, comumente conhecido como máscara de proteção respiratória. Com isso garante-se que o agente de risco não tenha “atalhos” para o sistema respiratório e possa ser retido no material filtrante.
Existem ensaios de vedação que são utilizados para verificar a aderência dos protetores à face, porém, estes não serão abordados neste artigo. Para o usuário comum, basta saber que as bordas do protetor devem estar bem ajustadas ao rosto, cobrindo nariz e boca, em especial as proximidades do nariz e embaixo do queixo, áreas que costumam apresentar vãos.
A penetração pelo material filtrante é relevante, pois o objetivo é não permitir a passagem do agente de risco. Dessa forma, o material filtrante, sua espessura de camada e características construtivas devem ser capazes de reter o agente, deixando apenas o ar passar, teoricamente sem contaminantes.
Entretanto, além das informações sobre o método de proteção, precisamos entender sobre o que estamos nos protegendo. No caso específico do COVID-19, estamos falando de um vírus com dimensões nanométricas* que deve ser retido antes da chegada ao aparelho respiratório.
Será que qualquer máscara é suficiente para garantir esta proteção?
Não… e vamos discutir o porquê.
As formas de espalhamento dos vírus são limitadas: fluídos corporais, ar, aerossóis contendo gotículas e superfícies contaminadas; não pretendemos nos estender sobre as diversas formas de contaminação, porém, saber que vírus estão dispersos no ar ou em aerossóis oriundos de tosses, espirros e exalação, ajuda-nos a compreender como proteger as vias respiratórias.
As máscaras cirúrgicas não te protegem dos agentes de risco, apenas evitam espirros e jatos direcionados para sua boca e nariz. Com dimensões nanométricas, os vírus passam com tranquilidade pela fibra. Porém se você está doente, a máscara pode proteger as pessoas que estão a sua volta, reduzindo o risco de que sua exalação pelo nariz ou boca sejam dispersos pelo ar.
Claramente percebemos que a máscara de uma pessoa doente é um vetor importante de contaminação, portanto não deve ser tocada na parte frontal, e sim retirada pelo elástico e imediatamente depositada em uma lixeira com tampa.
Os protetores respiratórios que estão sendo vendidos apresentam diversos tipos de materiais filtrantes e graus de proteção. Estes graus são classificados em PFF1, PFF2 e PFF3 e são relacionados com o grau de penetração dos agentes de risco em ensaios, realizados com aerossol de cloreto de sódio em partículas de até 0,6 micrômetros**.
Só essa classificação não é suficiente, porque existem máscaras que são específicas para proteção contra compostos químicos, porém, nesse artigo, vamos considerar que todos os aerossóis estão em meio aquoso, caso do vírus COVID-19.
Como escolher?
Existem muitas variáveis técnicas para a escolha de máscaras ou protetores respiratórios, como concentração do contaminante, fator de proteção atribuído, natureza da atividade executada, entre outras questões; de modo a simplificar, as máscaras PFF1 possuem membranas que permitem a penetração de até 20% do aerossol de cloreto de sódio e, normalmente, são utilizadas para particulados sólidos. As máscaras PFF2 permitem a passagem de até 6% e as PFF3 até 1%; ambas apropriadas para partículas sólidas ou líquidas.
Já que esse estudo está voltado para a proteção contra o COVID-19, pode-se concluir que tanto as PFF2 como as PFF3 oferecem algum grau de proteção.
Apesar das agências de saúde indicarem que para o caso do COVID-19 o uso de máscaras de proteção N95 são suficientes e estas serem equivalentes às PFF2, um vírus com tal potencial de contaminação deveria ter a maior barreira possível, especialmente para os trabalhadores da área da saúde.
Assim, entendemos que, por questões de custo e disponibilidade de produtos, seria inviável disponibilizar máscaras PFF3 para todos, mas pessoas com perfil de risco e trabalhadores da área da saúde deveriam tê-las à disposição. A concentração de agentes de risco biológico no ambiente pode ser relevante, mas basta a entrada de um único vírus no sistema respiratório para que o trabalhador adoeça. Dessa forma, os profissionais da saúde não estão isolados; estão expostos no ambiente de trabalho e depois estarão em trânsito e em contato com seus familiares. É necessário que tenham à disposição a melhor proteção possível.
Observações:
* 1 nanômetro = 0,000000001 m
**1 micrômetro = 0,000001 m
Referências bibliográficas:
Brasil. Cartilha de Proteção Respiratória contra Agentes Biológicos para Trabalhadores de Saúde/Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Brasília: Anvisa, 2009. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/resultado-de-busca?p_p_id=101&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&_101_struts_action=%2Fasset_publisher%2Fview_content&_101_assetEntryId=327062&_101_type=document>
TORLONI, M.; VIEIRA A. V. Manual de proteção respiratória. São Paulo: ABHO, 2003.