Ergonomia e Saúde Mental
Os trabalhos em ergonomia têm como fundamento a adaptação do trabalho ao ser humano considerando todos os elementos produtivos no qual o trabalhador está envolvido. Máquinas, ambiente, organização e demandas cognitivas e psicossociais. Porém, raramente a análise ergonômica é realizada considerando todas essas interações.
É comum que as empresas entendam que uma análise ergonômica seja uma avaliação de mobiliário, cargas ou de repetições de movimentos, com uma visão puramente biomecânica das atividades laborais.
Esta visão reduzida, diminui a importância da ergonomia e das relações de trabalho nas condições de saúde dos trabalhadores.
A saúde e a atividade laboral
Mas para entender o que seria uma condição de saúde do trabalhador, devemos primeiro nos apropriar do que seria a condição de saúde. Uma pessoa saudável seria aquela que apresenta equilíbrio em todos os aspectos da sua vida, equilíbrio orgânico, mental, espiritual e profissional. Cada uma dessas áreas é uma engrenagem que precisa estar ajustada às demais.
Sob esse ponto de vista, a análise do ambiente e das condições biomecânicas de realização do trabalho são apenas uma parte de um sistema complexo que envolve relações de poder, formas de organização e divisão do trabalho, expectativas pessoais, pressões, condições financeiras, reconhecimento, valorização do trabalhador e oportunidades de crescimento.
O apagamento ou invisibilidade de todas as demais áreas que compõem as interações do trabalho contribuem para que a saúde mental esteja em terceiro lugar nas causas de afastamentos no Brasil, responsável por 15% dos afastamentos previdenciários.
A dificuldade que as empresas e profissionais têm para estabelecer relações entre as causas de afastamentos por saúde mental são múltiplas. Primeiramente por fatores culturais que ainda marginalizam o transtorno mental, seguido pelo caráter subjetivo das manifestações e das dificuldades na distinção entre uma situação de sofrimento ou de doença mental.
O sofrimento como gatilho para a doença
As condições de sofrimento no trabalho, por qualquer que seja o motivo, exigem uma ação por parte do trabalhador. Esse é um dos pontos onde a subjetividade é mais impactante. Porque cada pessoa vai reagir segundo o agente estressor e sua resiliência. Alguns terão o impulso de suportar o sofrimento, seja pela perspectiva de uma melhoria futura, ou por ter uma alta resiliência. Outros, irão somatizar o sofrimento mental e emocional em outras partes do corpo, não correlacionando a doença com o trabalho, embora tenha sido causado por ele. Há pessoas que apesar da sua capacidade de suporte, em algum momento sofrerão uma ruptura interna e irão desenvolver doenças mentais.
E todas essas reações possíveis, possuem outros fatores contribuintes, como grau de instrução, características do núcleo familiar, condições financeiras, histórico passado, entre outros. Complicando ainda mais a análise, os contribuintes, por si só, não são determinantes. Situação que contribui ainda mais para a subjetividade.
Todos os elementos apresentados até agora fazem parte de uma área do conhecimento chamada psicopatologia do trabalho.
Mas como a ergonomia e a doença mental estão relacionadas?
A ergonomia avalia as questões relacionadas à organização do trabalho, às demandas cognitivas, ao ritmo e aos demais estressores aos quais os trabalhadores estão sujeitos no exercício de suas funções. As diferenças entre o trabalho realizado efetivamente e o que está prescrito, as sutilezas que influenciam nas tomadas de decisões que afetam o trabalhador e seu desempenho. E é claro, também insere as questões do ambiente de trabalho e de biomecânica. Este apanhado indica um conjunto de informações que aponta para situações que merecem atenção por parte dos gestores por apresentarem maior risco.
Com o conhecimento e sugestão de estratégias de melhoria do ambiente laboral, da organização do trabalho e das cargas mentais e psíquicas associadas a ele, é possível traçar estratégias para que o trabalho seja o que efetivamente deveria ser, uma oportunidade de autodesenvolvimento e realização, através da construção de relações e conhecimentos, além de ser provedor de uma vida digna.
Verifique se a análise ergonômica disponível na sua empresa contempla toda a amplitude necessária. Reduzir passivos, exige informações de base.